Olá, pessoal!
Faz um tempão que eu não posto e
já estava com muita vontade voltar a escrever, fiquei matutando sobre qual
seria o tema deste post e acabei encontrando inspiração em três posts que eu
escrevi sobre animações do Studio Ghibli: “Viagem de Chihiro”, “Castelo Animado”
e “Ponyo - Uma Amizade que Veio do Mar”, mas a animação que vou falar hoje é
diferente das três anteriormente mencionadas, todas apresenta uma temática mais
voltada à fantasia e têm finais felizes. A animação de 1988: “Túmulo dos
Vagalumes” (ou no japonês “Hotaru no haka”) se diferencia nestes dois aspectos,
a temática não é fantasiosa, é tão real que mostra-se terrível e sobre o final
veremos mais adiante.

Sinopse
A história se passa durante
Segunda Guerra Mundial, no Japão, na época em que ocorreu o bombardeamento de
Kobe.
Dois irmãos, Seita e Setsuko, tentam sobreviver aos inúmeros bombardeios
feitos pelos aviões de guerra. De início, ainda contam com a ajuda de sua mãe, que
se dirigia aos abrigos, mas infelizmente ela é atingida em um dos ataques, deixando
os irmãos à sua própria sorte para sobreviverem da maneira que conseguirem:
sozinhos.
Seita e Setsuko vão para a casa
de uma tia, pois o mesmo bombardeamento que havia matado sua mãe, havia
destruído a casa. A princípio estava tudo bem, Seita conseguiu encontrar a
comida que havia escondido para caso a casa fosse destruída, mas vai ficando
doloroso a medida que a tia diz que eles devem vender as coisas que pertenciam
à mãe para podem comprar comida, em especial arroz. Mas esses objetos que antes
pertenciam à mãe também vão acabando e a presença dos irmãos na casa da tia
começa a ser vista como um fardo, são “duas bocas mal-agradecidas que
alimentar”.
O pai está lutando na guerra, e
Seita envia-lhe diversas cartas e não chegam respostas, mais tarde o pai é dado
como desaparecido, o que complica ainda mais a situação de Seita e Setsuko.
Porém, nenhum desses acontecimentos faz com que ele desista. Ele luta
bravamente para conseguir um lugar onde ficar e, acima de tudo, conseguir
comida. Saem da cidade e acabam num abrigo isolado na floresta, onde lutam
contra a fome e as doenças e se divertem com à luz dos vagalumes.
Studio Ghibli
Já quero começar falando do que
eu mencionei brevemente no começo do post, esta animação não é a cara do Studio
Ghibli, não estou dizendo de maneira alguma que é ruim ou algo do gênero, mas
este filme não se assemelha em nada aos, por exemplo, três que eu já falei aqui
no blogue. A temática central não é fantasia, por assim dizer, analisemos, por
exemplo, o Castelo Animado, a começar pelo título, um castelo que pode
mover-se, e no que tange à história há um demônio do fogo, bruxas e portas
mágicas. Estes temas que fogem da realidade e nos levam a um outro mundo são a
marca do Studio Ghibli, mas não para o Túmulo dos Vagalumes.
Este filme fala,
como já viram na sinopse, da segunda guerra mundial e se esperam que “por ser
uma animação a visão sobre a guerra vai ser leve”, enganam-se. Isto não é um
spoiler, pois se fala disso logo nos primeiros 20 segundos (sem brincadeira) do
filme, mas se você for muito spoilerfóbico vá para o tópico seguinte, bom, o
filme é meio que narrado por Seita e já começa com a morte dele, como ele mesmo
diz: “21 de setembro de 1945… Essa foi a noite em que morri” e daí ele vai nos
levando por todos os eventos deste o bombardeio que matou sua mãe até essa
noite de setembro. Parece apropriado falar neste tópico, de diferenças das
outras animações Ghibli, a morte da mãe dele foi muito brutal, apesar de não
aparecer em tela o momento em que aconteceu o bombardeio no lugar em que ela se
encontrava, pois afinal, lembrem-se nós (espectadores) vemos a história pelos
olhos de Seita.
Após esse bombardeio foi
anunciado que quem precisasse de atendimento médico deveria dirigir-se à escola
e, com esperança de encontrar sua mãe, os irmãos vão para lá. Seita é o único
que vai ver a mãe, pois pelo que lhe disseram ela havia sido ferida, e olha era
muito grave, o menino chega e vê sua mãe com o corpo quase que completamente
queimado, haviam ataduras cobrindo-a da cintura para cima, mas via-se que mesmo
assim, ainda sangrava e era claro que a dor deveria ser horrível (só não a
ouvimos gritar pelo fato dela estar dormindo).
Mas pareceu tanto que a vida
dela foi descartável, digo isto, pois quando ela morreu seu corpo foi jogado,
como se fosse lixo ou algo assim, e queimado junto com outras pessoas que
haviam morrido, é claro que isso nos leva à reflexão do que era a morte durante
a segunda guerra, primeiro: era comum e segundo: sem significado, sem
dignidade; o que dói profundamente ao nosso narrador, pois ele estava lá quando
ela foi jogada no meio daqueles corpos.
Apesar de Seita sempre estar
tentando fazer sua irmãzinha rir, às vezes fica difícil, não só a convivência
com a tia, mas os recursos vão ficando escassos na região inteira, pois os
bombardeamentos são frequentes, a irmã tem pesadelos e chora pela mãe, então é
sofrido assistir este filme. Ele tenta manter-se confiante e faz coisas para animar
sua irmã, no início do filme eles são meio que a alegria naquele ambiente
caótico, mas no decorrer da trama, toda a alegria que eles traziam vai desvanecendo.
É o que o torna único dentre as animações Ghibli, o filme é perfeito, mas você
não vai querer assisti-lo novamente, justamente pela tristeza que traz à tona,
o apego que nos faz ter pelos irmãos, algo que é muito pesado, pois cada
dificuldade que aparece nós sofremos junto.
É belo?
Não, o filme não é bonito, digo
isto no sentido de trama, de contexto e no que toca aos personagens, já refleti
acima grande parte dos motivos pelo qual este não é um filme belo; não é como
Chihiro, por exemplo, que há uma grande história de amor envolvida, magia,
diversão, ou como Ponyo onde há fantasia, luta pela liberdade e esperança, o
Túmulo dos Vagalumes te destrói. Gostaria de mencionar também os efeitos da
guerra. Esta animação faz muito bem em explorar a vida das pessoas durante
estes anos tão terríveis, e deixa mais de lado a guerra, tornando-a um plano de
fundo para a história dos dois irmão, tanto que há um ponto do filme que nós,
os espectadores, deixamos de saber como esta a situação do Japão na guerra,
pois tudo o que vemos é pelos olhos de Seita, sabemos o que ele sabe, e nada
além disso.

Este filme só é belo na arte, na
trilha sonora e na animação. As metáforas e relações que são colocadas são
lindas e até poéticas. Cenas que mostravam uma ligação, na imaginação de Seita,
das luzes dos vagalumes e as luzes do desfile naval que uma vez foi, era um
momento em que aparece o povo cheio de orgulho pela nação nipônica e o jovem
pareceu feliz em recordar esses momentos antes da guerra (ou talvez bem no
começo dela, quando o Japão partia para o combate). E ainda outra cena em que
mostra as bombas caindo dos aviões, mas antes de chegarem ao solo e explodirem,
corta para uma cena onde os vagalumes voam calmamente, eu vi isto como uma
relação entre a vida (vagalumes) e a morte (bombas).
"Por que os vagalumes morrem tão
cedo?"
Esta é na verdade uma fala de
Setsuko para Seita, logo depois de dizer que ela sabe que a mãe deles está
morta.
Há uma triste transição de cenas, mais ou menos como a das bombas e a
dos vagalumes, só que neste momento Setsuko está enterrando os insetos, são muitos
e ela vai colocando-os todos num “túmulo” que ela cavou para eles e ao ver os
vagalumes amontoados no buraco, Seita se lembra dos homens jogando a sua mãe em
cima de outros corpos para ser queimados. Os vagalumes, que antes se
contrapunham à morte, agora são a representação dela.
Esta fala pode ser levada
num sentido literal e num figurativo. No sentido literal faz sentido, pois os
vagalumes têm uma expectativa de vida média de 2 meses, então é super curta, mas
no sentido figurativo e metafórico, podemos analisar junto com o fim do filme
(mais uma vez atenção, pois terá spoilers): Setsuko acaba por morrer, apesar de
Seita ter conseguido trazer comida para alimentá-la não foi suficiente para
mantê-la viva. Ele usa uma parte do dinheiro que sua mãe tinha no banco para
comprar coisas para a cremação da irmã e enquanto a vê queimar o dia vira noite
e os vagalumes aparecem, e para mim foi um dos momentos mais tristes, pois esta
é cena que traduz o título do filme.

Por hoje é tudo pessoal, eu sei que parece uma animação
muito triste e pesada, o que é verdade, mas, mesmo que custe, é necessário
assistir para ter uma mínima ideia do que muitas pessoas sofreram nos tempos de
guerra (e muitas ainda sofrem hoje).
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L Quinn |
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