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Guardiões do Louvre: arte e memória (mangá sem spoiler)

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Antes de seguirmos com a tradicional leitura do post, devo explicar porque falar desse quadrinho agora, sendo que já o li faz uns meses. O motivo é simples: o mundo de hoje olha para a França com pesar, recentemente, no dia 15 de Abril, veio à notícia que a catedral de Notre-Dame sofreu um incêndio e danificou um famoso ponto turístico e patrimônio histórico mundial. Notre-Dame já foi usada em videogame (Assassin´s Creed Unity), na literatura (obra homônima de Victor Hugo), bem como em animações da Disney, portanto estamos aqui falando de um ponto de convergência entre diversas artes num só lugar. Ainda que a história do quadrinho que analisaremos fale do Louvre, será uma análise apenas de pano de fundo para tratar de uma íntima relação entre patrimônio histórico, arte, memória e a importância da preservação desses espaços/obras.


Olá iniciantes! Como vão? Espero que bem! Aproveitando o feriado de Páscoa decidi fazer um post maneiro para vocês indicando um material para quem se interessa por História da Arte, trata-se de "Guardiões do Louvre", mangá publicado pela editora Pipoca & Nanquim, lançado em abril de 2018, escrita e desenhada por Jiro Taniguchi (1947-2017).

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Enredo:

O enredo foca num sujeito (claramente japonês), cujo nome o leitor desconhece, e que após uma viagem para uma exposição internacional de quadrinhos na Espanha, pega uma forte febre e repousa em Paris, França; como perdeu o voo para sua terra do Sol nascente, decide visitar o Louvre, um dos museus mais famosos e importantes do mundo, onde encontram-se algumas das maiores obras de arte da história; porém, ao chegar lá, o protagonista começa a ter visões estranhas, como se algumas obras de arte do museu falassem com ele - talvez seja a febre que tenha o afetado, ou talvez seja algo mais... A trama seguirá os dias de hospedagem do protagonista da capital francesa e oferece uma verdadeira aula de história da arte. Ainda que o enredo pareça chato e superficial, sua narrativa é incrível!

Com a palavra, Jiro Taniguchi:

Seria injusto comentar a obra sem falar de seu autor, porém aqui pouco me importa a biografia do mesmo, isso é acessível à qualquer um nesse ciberespaço - basta ver os comentários da própria editora sobre a obra aqui ou talvez aqui -, então optei por comentar sobre a importância do mangaká dentro de sua obra. Na obra "Guardiões do Louvre" há um fio condutor do enredo que está no diálogo profundo entre as artes do Oriente e do Ocidente, nos é ensinado, por exemplo, como Van Gogh admirava desenhistas japoneses, o que foi crucial para criação de seus famosos quadros, influência nítida do movimento artístico chamado de "japonismo"; mas essa é apenas uma das várias curiosidades artísticas que permeiam a obra. Essa relação artística entre o Ocidente (com ênfase na França) e o Oriente (especialmente o Japão) se relaciona com a vida de Jiro Taniguchi, que foi um dos primeiros mangakás a dialogar com a cultura ocidental - precisamente por isso seu desenho pouco se assemelha com o padrão oriental, e sim com o formato mais europeu. O laço criado por Taniguchi com os franceses foi tão intenso que a própria produção desse mangá se deu por essa relação: foi a pedido do próprio Museu do Louvre que esse mangá foi concebido, tratava-se de uma celebração de aniversário do museu, decidiram chamar grandes quadrinistas do mundo todo, e claro, Jiro Taniguchi não ficaria de fora. 

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Avaliação da obra e ficha técnica:

Diante de tudo que foi dito até agora, concluo com franqueza que esse não um quadrinho para qualquer um, é para um público de nicho, para aqueles que querem saborear boa arte e aprender algo de novo com ela, é um prato e tanto para os espíritos sedentos por algo mais... sublime. É preciso paciência com esse tipo de leitura, para degustar da refinada arte de Taniguchi e observar atentamente as arquiteturas do Louvre. Também é preciso reservar parte do dia para estudar e se permitir conhecer novos artistas plásticos que são citados a todo instante na obra, isso certamente te trará um sopro artístico que apazigua a alma. A crítica mais séria desse mangá está no seu próprio conceito, senti que havia muito mais a ser explorado, mas parece que foi delimitado pelo próprio projeto do Museu do Louvre, não sendo o Jiro livre de qualquer obrigação, acabou por ter seu potencial reduzido, ao menos foi o que senti. Pergunto a você leitor, que já adquiriu o mangá, concorda comigo?

Nota: 8,25/10.
Ficha técnica: 
  • maior mangá do Brasil com formato 23x31 (falo sério, é um mangá enorme em altura);
  • 140 páginas coloridas, contendo glossário ao final do quadrinho que dá nome às obras de arte citadas na história, e também com pequenas biografias dos pintores mais importantes para a trama;
  • Capa dura e contém verniz.
Pode ser adquirido pela Loja do PN ou pela Amazon.

Da preservação:

Ao leitor que só procurava por uma indicação de mangá, meu trabalho foi concluído, dedico essa secção ao leitor que se permitir avaliar acontecimentos recentes à cultura e história de nossa civilização e de outros países. Antes de seguir a leitura para uma reflexão, optei em reunir algumas notícias de sites renomados para tratar de diversas perdas culturais, históricas e mesmo científicas que ocorreram num espaço curto de tempo, vejam:
O que há de comum nesses links acima? Muitos incêndios? Talvez, mas existe algo mais. Acidentes ocorrem, fazem parte da vida humana, sempre somos passiveis de estar no lugar errado na hora errada, porém quando tratamos de um despreparo de nossa parte, é evidente que temos em mente os riscos que podemos sofrer, acontece que nem sempre diante de um eventual desastre nos prevenimos. Um dos textos mais interessantes citados acima está uma crítica do diretor do Museu Nacional (do RJ), falando já em 1844, da dificuldade de manter um acervo tão vasto e valioso num espaço pequeno, ou ainda apontando rachaduras no interior da arquitetura; ou ainda de uma prolongada reforma do Museu do Ipiranga (em SP) que parece nunca se concluir, ainda somado ao Museu da Língua Portuguesa, que em seus primeiros anos de vida foi o museu mais visitado do Brasil e até da América Latina, e que sucumbiu às chamas em 2015; num panorama internacional temos a notícia de uma Mesquita, localizada em Jerusalém, sendo incendiada no mesmo instante que a cidade das luzes, Paris, vê um patrimônio histórico mundial sendo devastado pelas chamas. O que fiz foi apenas uma rápida pesquisa, mas posso falar que muitos conflitos bélicos também são responsáveis pela destruição desses patrimônios, diante de tudo isso questiono: como isso é possível? 

Editora Globo
Imagem da Biblioteca de Alexandria sendo queimada

Aqui vai um pequeno spoiler do mangá analisado hoje: um dos momentos mais marcantes da obra toda está no capítulo que mostra a França na época da Ocupação Nazista. Os nazistas tinham o hábito de, ao invadir um país, saquear suas obras de arte e/ou destruí-las, pouco importava o valor histórico dela, não sendo de interesse do "führer" - "o líder", a saber, Adolf Hitler (1889 - 1945) - os soldados tinham total liberdade para destruir o que havia à frente. Em "Guardiões do Louvre" é mostrada a operação feita para proteger as obras do museu, e como os funcionários do local tinham verdadeiro amor por elas, um deles chegou até a quase morrer para proteger o retrato da Mona Lisa. Depois de ler esse mangá, depois de ver os desastres de Notre-Dame, do Museu Nacional e tantos outros, há um enorme pesar que toma conta de meu ser. Gostaria de saber sua opinião, caro leitor, sobre todos esses acontecimentos, as perdas podem ser reparadas? O que acham? A conclusão que deixo aqui é apenas um lamento e penso: quantas catedrais, quantos museus, mesquitas e Alexandria´s ainda serão queimadas? 


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