Saudações Iniciantes, como vão? Hoje decidimos fazer um post especial porque vamos fugir do nosso padrão: hoje falaremos de Filosofia. Geral...

de
20
undefined

Descartes: A Filosofia da Mente de Descartes - de John Cottingham (resenha)

/
0 Comments

Saudações Iniciantes, como vão? Hoje decidimos fazer um post especial porque vamos fugir do nosso padrão: hoje falaremos de Filosofia. Geralmente somos levados a discutir temas de cultura pop, mas dessa vez vamos nos afastar dele para apresentar um livrinho simples e bacana para quem quer conhecer mais dessa saber de 2 mil e quinhentos anos. Além disso, esse tipo de conteúdo abre espaço para fazermos posts diferentes das habituais resenhas, em breve vocês verão. Vamos ao livro da vez!

    Dividido em 3 seções principais, o livro “Descartes: A Filosofia da Mente de Descartes” (55 páginas), publicado pela Unesp, São Paulo, em 1999, conta com a tradução de Jesus de Paula Assis e faz parte da Coleção Grandes Filósofos.

Eis o retrato de René Descartes, feito por Frans Hais. Esse é um dos quadros mais famosos de Descartes, demonstrando seu famoso bigode e cabelo!
            

    Apesar do tamanho reduzido, o livro não é recomendado como leitura explicativa da obra de Descartes, aliás, como o próprio subtítulo revela, o livro faz um recorte preciso: estuda a Filosofia da Mente de Descartes, não sua Teologia (estudo e reflexão sobre Deus), nem sua epistemologia (a sua teoria do conhecimento, ou seja, como adquirimos conhecimento), mas a relação mente-corpo que o filósofo criou. Todavia, o autor ocasionalmente cita essas outras áreas exploradas pelo pensador do cogito.

           A primeira parte do livro consiste em apresentar o Descartes ao público geral, sua faceta cientista e a sua contribuição para a Filosofia, Matemática, Física etc. Então vamos fazer o mesmo aqui, neste post, para que todos conheçam brevemente René Descartes (1596-1650), um dos nomes mais importantes da Filosofia e Matemática moderna.

Por mais que pouco conheçamos sobre Descartes, ele está presente desde o primeiro momento que aprendemos na Física sobre “Movimento Retilíneo Uniforme” (MRU) ou quando aprendemos sobre “Função linear” em Matemática, porque geralmente usamos o plano cartesiano para representar o deslocamento dos corpos físicos, sua relação tempo x distância, ou quando pensamos em trigonometria, sempre a partir de um plano cartesiano, algo criado pelo pensador. Descartes, no campo da Filosofia e Psicologia – que é o que interessa mais o autor do livro – foi responsável por colocar a “mente” como aquilo que nos caracteriza enquanto seres; para o filósofo, somos uma res cogitans (latim: “coisa pensante”), daí a famosa frase: “Cogito ergo sum” (“Penso, logo existo”). A frase, apesar de parecer óbvia hoje em dia, demonstra a atualidade e impacto cultural de Descartes para o nosso modo de pensar ocidental, ou seja, foi a partir dele o modo de nos reconhecermos como sujeitos modernos, seres que pensam, deliberam, que agem por si mesmos, de modo individual, partilhando uma essência em comum com os demais humanos (a essência de serem coisas pensantes, que se dedicam a pensar!), mas nem por isso somos idênticos entre nossos pares.

Descartes acreditava que a mente e o corpo são coisas distintas. Enquanto a mente se preocupava com o pensamento, o corpo agia como uma máquina, sofrendo e realizando movimentos. Um exemplo famoso é quando um médico usa seu instrumento para bater em nosso joelho, a reação do corpo não é pensada, ela é automática, como uma máquina.

Quando disse que o livro não é indicado para “totalmente leigos” porque não explica as áreas de atuação do pensador: epistemologia, teologia, metafísica... não há nenhuma citação sobre o que sejam esses campos e o que eles investigam, daí faz parecer que Descartes simplesmente foi uma pessoa importante, falou algumas coisas relevantes e nos causou uma dúvida sobre a relação de nosso corpo e mente. Não acredito que esse seja o melhor caminho para apresentarmos um filósofo de tamanha envergadura. Esse talvez seja o maior defeito do pequeno livro, porque não sensibiliza bem o leitor sobre os eventos que precederam Descartes. Ao menos eu não senti essa sensibilização.

            Porém, em matéria de conteúdo, diria que é uma ótima recomendação: o livro estabelece críticas à lógica usada por Descartes na descoberta do cogito, questiona sobre a relação da mente e o corpo (tema principal da última parte do livro, onde faz um panorama do Descartes em sua última fase, procurando uma conciliação entre mente e corpo como “unidade substancial real”). Fazendo uso de citações diretas de trechos das Meditações e do Discurso do Método, das cartas, respostas às objeções etc. John Cottingham é preciso ao demonstrar pontos centrais da obra para criticá-la. Positivo também são as citações feitas a um filósofo importante da tradição anglófona: Gilbert Ryle e seu The Concepto of Mind, de 1949, obra inédita no Brasil, mas de grande influência para o campo da Filosofia da Mente.

            O livro vale a pena? Sim, se o leitor for alguém levemente introduzido nos campos da Filosofia (provavelmente indicado para um estudante de Ensino Médio que já passou das aulas introdutórias de Filosofia, ou para interessados no assunto em geral), caso contrário, o leitor até pode gostar da experiência, mas, ao término, compreenderá a ideia central do cartesianismo, mas não será incitado a uma experiência filosófica que questione sobre o estatuto da mente. Entretanto, se o leitor for alguém com alguma bagagem sobre o assunto, pode comprar este (e creio que) qualquer livro da Coleção Grandes Filósofos, sendo livros pequenos e “portas-de-entrada” para um contato já mais aprofundado com a obra; estudantes de graduação que cursam Psicologia e Filosofia certamente terão maior afinidade com o material. 





You may also like

Nenhum comentário :

Tecnologia do Blogger.