Saudações iniciantes, como vão? Espero que bem! Se chegaram até aqui é porque: a) gostam de Arquitetura; b) gostam de bizarrices; c) gostam...

The House - arquitetura e bizarrice

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 Saudações iniciantes, como vão? Espero que bem!

Se chegaram até aqui é porque: a) gostam de Arquitetura; b) gostam de bizarrices; c) gostam de animações que envolvem tudo isso junto. Independente da resposta, vieram ao lugar certo, pois hoje falaremos de "The House", uma peculiar animação exclusiva da Netflix. Vamos conferir!



Ficha técnica:

Filme: The House (A casa, em português), classificação indicativa: 12 anos. Lançamento: 2022.

Elenco: Mia Goth, Javis Cocker, Susan Wokoma, et all.

Direção: Emma De Swaef, Marc James Roels, Niki Lindroth von Bahr

Duração: 97 min. (1 hora e 37 min.)


A história:

Quando vi a sinopse da Netflix sobre o filme eu logo achei curioso, especialmente quando vi as palavras "comédia", "animação" e "humor ácido". São algumas coisas que gosto em matéria de cinema. Optei por iniciar o filme. Vejo um silêncio, tela preta, depois, alguns versos ingleses e acima deles um número romano I. Logo compreendi: temos a primeira parte da história. Estava certo. 

Aqui temos uma obra em três partes. Escolhi por intitular deste modo, porque, na prática, o filme não dá nome às histórias, apenas mantém a estrutura de apresentação: um cenário escuro, uma imagem ilustrativa, alguns versos e o número romano: 


I - A família;

II - O rato;

III - A gata. 


Vamos falar sobre cada uma delas:


I. A Família: aqui encontramos uma família humilde, que vive numa época não determinada, mas parece ser final do século XIX ou início do século XX. Um pai, mãe, filha caçula (Isobel, uma bebê) e a protagonista, uma garotinha de até 10 anos. Eles vivem bem em sua casa, com uma rotina simples, até que a chegada de membros da linhagem paterna desencadeiam uma série de eventos, então a humilde família passa a viver numa enorme casa, mas isso traz consequências que jamais poderiam imaginar.


II. O Rato: diferente da primeira história, a segunda e a terceira são quase fábulas: elas colocam animais falantes para viverem coisas humanas, são antropomorfizados, trabalham e têm anseios diversos. Neste caso, estamos diante de um rato que, segundo a descrição da Netflix, é um arquiteto, e, apesar de se mostrar um corretor imobiliário, no filme vemos alguém que ajuda a organizar melhor uma casa para que ela seja vendida, mas todos esforços resultam em decepções ou catástrofes. 


III. A Gata: aqui, agora num cenário completamente apocalíptico, tomado por uma enorme enchente, temos uma gata que vive numa grande casa, acompanhada de dois (péssimos) inquilinos que nunca pagam o aluguel devidamente. Ela sonha em consertar o lugar para que ele atraia mais pessoas. 

Aqui temos a protagonista da parte III, Rosa. Reparem na riqueza de detalhes da pelugem!


A(s) casa(s):

As três casas que vemos ao longo do filme, na verdade, são a mesma, mas colocada em diferente perspectiva e em diferentes contextos. Aqui é preciso conjecturar minimamente: conforme dito, a parte I deve se passar no início do século XX ou finais do XIX, a parte II, penso, se trata de algum momento do século XXI, nossos dias atuais; a parte III seria o pós-XXI, o mundo tomado por enchentes que ocorreram a partir do Aquecimento Global e o derretimento das calotas polares, levando o mundo a uma enorme inundação. Mas afinal, o que trata o filme? 

A casa que é retratada no filme serve como grande crítica social, pois ela fomenta diversas consequências negativas para os demais personagens, e não por ser uma casa bela ou grande, seu mal não reside neste ponto, mas no fator psicológico dos personagens que habitam-na. Esta ideia não vem de hoje: o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) é amplamente reconhecido pela obra Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens (1755), onde ele determina que a humanidade vivia bem em seu estado natural, capaz de realizar suas atividades e estava feliz com isto. Foi no momento que alguém estabeleceu um cercado e disse "isto é meu!" que todos males passaram a surgir. Isto significa que Rousseau via na propriedade privada a raiz da desigualdade sociopolítica que há entre as pessoas. A partir da instituição da propriedade privada, uma série de modificações psicológicas (ou seja, do pensamento, do espírito de cada proprietário) surgiram, nascendo assim as disputas por mais e mais poder, por mais terras e um verdadeiro vale-tudo emergiu de um terreno puro e belo. 

Retrato de Rousseau, por Maurice Quentin de La Tour.


"The House", ao meu ver, segue a mesma estrutura: todos personagens possuem uma ambição profunda de ganharem mais, subirem de nível, por conta da propriedade adquirida; em certos casos, a trama nos mostra a chance de nos corrompermos durante o processo é maior do que sua realização efetiva. O filme não é evidente neste ponto em nenhum motivo, talvez somente no final, em que uma música é reproduzida junto aos créditos e a mensagem fica6 explicitada. 

Outros detalhes:

O filme também, enquanto animação, é muito caprichado. Ainda que exista um estranhamento quanto ao ritmo do filme, porque ele cria, de fato, uma atmosfera própria para cada parte do longa-metragem. Sinto que a parte I é a mais aterrorizante, a segunda parte é mais um humor com final impactante, e a terceira parte é a mais dramática. 

Para se construir uma boa atmosfera, sabemos, é preciso uma boa trilha sonora, e ela se faz presente, mas com ausência de músicas, somente instrumental (exceto na parte II e nos créditos finais). E, como animação, depende fortemente do fator visual, que aqui é um choque de realismo: as imagens remetem à bonecas de pano, como se fossem feitos de tecido, o que é admirável pela precisão, movimentação e as expressões das personagens. Lembrando que tudo isso é feito em stop-motion. Os mesmos elogios podem ser ditos para a casa em si, que possui um ótimo "design de interiores", devidamente caprichada como precisa ser para demonstrar sua imponência.

Realmente, o ponto mais negativo seria o ritmo do filme, que dedica 30 min. aproximadamente para cada parte, sendo que algumas possuem um desenvolvimento menos interessante que as demais - ao meu ver, a parte II é a mais tediosa, com humor nada divertido, ainda que beire o absurdo em algumas situações, o que é próprio do humor britânico (o filme é uma produção inglesa). Também podemos elogiar aqui a dublagem dos personagens, que só conseguiram tal profundidade graças àqueles que lhes ofereceram suas vozes.


Conclusão:

Apesar de nem sempre contar com uma história totalmente envolvente, e uma aparente dificuldade em trabalhar o ritmo adequado para alguma das histórias em comparação com outras, The House é com certeza uma ótima indicação para todo mundo que procura algo de diferente e esquisito na Netflix. Fugindo completamente das animações padrões (ex: Encanto, que comentamos recentemente no blog), The House tem tudo aquilo que uma boa animação precisa: design visual, atmosfera, dublagem e uma mensagem que, à primeira vista, pode soar confusa, mas que fica em nossas mentes, ecoando, como fazem os bons filmes.

Agradeço imensamente você, leitor(a)! Espero que tenha gostado da indicação! Se gostou do tema, diga o que achou do filme, deixe um comentário aqui neste post. Também pedimos pelo seu compartilhamento, para nos ajudar com a divulgação. Um forte abraço e até breve!



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